K-Drama da vida real ou ilusão? Aumenta o número de casamentos entre coreanos e estrangeiras
- Rami
- 27 de fev. de 2024
- 4 min de leitura
Atualizado: 28 de fev. de 2024

Virou quase um senso comum entre as pessoas que conhecem amantes dos k-dramas que o sonho de qualquer dessas fãs seria se casar com um coreano. Em alguns casos isso é verdade, já que hoje em dia se tornou comum na internet vermos conteúdos muitas vezes baseados apenas nos supostos k-dramas da vida real, mostrando o romance, em sua maioria, onde a mulher é estrangeira e o homem tem a nacionalidade sul-coreana. Apesar de histórias como essas acontecerem, não são todas nós que assistimos os dramas coreanos que sonhamos em casar somente baseado-se no esteriótipo do homem coreano protagonista de novela. Mesmo assim, o nascimento desse esteriótipo tem embasamento já que comparando a anos anteriores a popularização do conteúdo de entretenimento coreano, o número de casamentos entre coreanos e estrangeiros aumentou dramaticamente.
A Coreia sempre teve uma cultura distinta sobre seus casamentos, onde a sua maioria deveria ocorrer entre pessoas da mesma origem étnica. O número de coreanos que se casam com estrangeiros permaneceu baixo por muitos anos, mas de tempos pra cá isso tem mudado. Um estudo diz que em 2018, o número de casamentos internacionais na Coreia aumentou 9,2% do número total de casais casados na Coreia. Como mencionado anteriormente, esse fenômeno teve maior contribuição pelas mulheres estrangeiras casando com homens coreanos, com 67% de ocorrência. Por outro lado, o número de homens estrangeiros casados com mulheres coreanas diminuiu para 18,4%. Entretanto, não podemos atribuir esses acontecimentos somente ao sucesso e globalização da cultura coreana, mas também a problemáticas internas da sociedade coreana.
A taxa de casamento entre os coreanos está diminuindo acentuadamente e a idade média de casamento no país aumentando. Uma pesquisa chegou ao resultado que metade dos coreanos acredita que o casamento não é tão necessário, entre aqueles com 13 anos ou mais, a proporção que considera o casamento algo necessário é de 50%. Esse número vem diminuindo ao longo dos anos. Esse fato sofre uma grande influência da Coreia do Sul vir lutando contra seu baixo índice de natalidade, onde em 2022 o país mais uma vez foi apontado como o possuidor a menor taxa de fertilidade do mundo. As mulheres coreanas, por enfrentarem dificuldades e desigualdades, como disparidade salarial, desigualdade de responsabilidade e preconceito no ambiente do trabalho, estão optando por não casarem e nem terem filhos.
Enquanto o número de casamento entre coreanos vem decaindo, o de casamentos com estrangeiros vem aumentando. Em 2022, 1 em cada 10 casais que se casaram eram famílias multiculturais, que é como o governo coreano define pares entre um coreano e um estrangeiro. O número de crianças nascidas em famílias multiculturais na Coreia do Sul atingiu o pico de 22.908 em 2012. Esse número cresceu, também, pelo incentivo do próprio governo coreano aos casamentos multiculturais.
Durante décadas, houve um desequilíbrio de gênero nas zonas rurais da Coreia do Sul. As mulheres jovens dirigem-se frequentemente para as cidades em busca de emprego, enquanto os homens ficavam para trás para cuidar das suas terras. Então, na década de 90, o governo sul-coreano teve de criar políticas para encorajar os homens, inicialmente aqueles das zonas rurais que não conseguiam encontrar um par, a casar com mulheres estrangeiras. Mas desde essa época a vida destas mulheres “migrantes matrimoniais” não parecia nem um pouco com a de uma k-drama. Alguns casais têm casamentos felizes e bem-sucedidos, mas muitas noivas estrangeiras classificadas como migrantes através do casamento, tornaram-se vítimas nas mãos de homens, sofrendo de discriminação, violência doméstica e até assassinato pelas mãos dos seus maridos. Muitas destas mulheres vão para a Coreia do Sul sem sequer conhecerem a língua, o que dificulta ainda mais qualquer tentativa de defesa própria.
Estatísticas mostram que mais de 42% das esposas estrangeiras relataram ter sofrido violência doméstica, incluindo abuso físico, verbal, sexual e financeiro. Isso não ocorre exclusivamente com mulheres estrangeiras, cerca de 29% das mulheres sul-coreanas entrevistadas no ano passado afirmaram ter sido vítimas de violência doméstica. Especialistas dizem que as regras discriminatórias, juntamente com o sexismo e o racismo na sociedade coreanas, são as culpadas e pressionam por mudanças institucionais para manter as noivas estrangeiras seguras.

Devido à recorrência desses infelizes episódios, medidas governamentais já foram tomadas para evitar esse tipo de acontecimentos entre cidadãos coreanos e os seus cônjuges estrangeiros. Desde 2014, o casal precisa provar que a noiva tem pelo menos o básico de coreano, ou o casal pode se comunicar em um terceiro idioma para ser apto a obter um visto. Mas ainda existem questões institucionais na Coreia do Sul que colocam as noivas estrangeiras e os seus maridos numa situação desigual.
Conforme as leis de imigração da Coreia do Sul, as noivas estrangeiras precisam que os seus maridos continuem a patrocinar o seu visto a cada cinco anos. Há casos de maridos que ameaçam retirar a garantia se a esposa quiser a separação. Mulheres com visto de cônjuge podem trabalhar na Coreia do Sul e, eventualmente, tornar-se residentes permanentes. Entretanto, se o marido é abusivo, cabe à esposa provar o abuso se quiser continuar a viver na Coreia do Sul sem patrocínio e se o casal se divorciar e não tiver filhos, a esposa deverá regressar ao seu país de origem. Estas condições institucionais têm o efeito de fortalecer o poder dos cônjuges coreanos, já que mesmo quando há problemas no casamento, as mulheres migrantes sentem que devem manter o seu relacionamento infeliz por causa destas questões institucionais.
Dito isso, devemos saber separar a arte da realidade. Casamentos entre pessoas de diferentes nacionalidades, culturas e línguas são possíveis, porém, são indiscutivelmente complicados em certos aspectos. Histórias de amor acontecem, mas não podemos nos esquecer de como a realidade pode ser cruel.
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