A ansiedade,nada mais é que um estado de humor que todo ser humano é capaz de sentir, porém, na dose errada pode ser tornar uma das sensações mais pertubadoras que podemos experienciar. A palavra "ansiedade" descreve aquele nervosismo ou medo que todos nós experimentamos durante fases desafiadoras da nossa vida, como antes de uma prova importante ou um encontro amoroso. A verdade é que essa sensação, regula nossas ações e é muito necessária, como quando precisamos ficar atentos ou evitar situações de perigo, a mesma funciona como um sinal que prepara a pessoa para enfrentar o desafio e, mesmo que ele não seja superado, favorece sua adaptação às novas condições de vida. Entretanto, como tudo em excesso faz mal, a ansiedade quando perde seu controle nos incapacita de viver uma vida normal.
Quando a ansiedade vira um transtorno, as preocupações são excessivas, as expectativas são apreensivas e a sua mente vira um grande algoritmo capaz de simular todas as possíveis e impossíveis situações que uma simples ação pode desencadear. Ser ansioso é viver na base do "e se" e se eu eu for a aula hoje? e se eu for a aula e aquela pessoa me ofender? e se eu não for a aula e reprovar a matéria? e se eu apenas desistir?. As hipóteses são tantas que o portador do distúrbio da ansiedade de sente cansado sem ao menos ter feito algo, porque a mente os leva a milhares de lugares a cada instante, a cada segundo.
Até o momento, eu como portadora do TAG (Trantorno de Ansiedade Generalizada) tentei trazer com base em estudos e na minha própria experiência, como a ansiedade nos impossibilita de nos desafiar ou apenas tentar e infelizmente esse problema está cada vez mais recorrente no mundo do Kpop. O que eu chamo de hiatus da ansiedade, são quando os idols tiram um tempo em suas carreiras pr cuidar da sua saúde. Não muito tempo atrás, a ansiedade nem era mencionada como o motivo do afastamento, certamente pelo estigma de distúrbios mentais na Coreia do Sul. Atualmente, é mais recorrente o anúncio do hiatus de algum membro do grupo e especificamente por problemas na saúde mental, como aconteceu na semana passada com a Lia integrante do grupo ITZY.
Em todo o mundo, a saúde mental é um dos campos mais negligenciados e possivelmente menos discutidos na área da saúde. Nosso país atualmente tem a população mais ansiosa do mundo. Índices elevado de desemprego, recorrentes mudanças no rumo da economia e falta de segurança pública são apontados como principais fatores para a alta prevalência de transtornos de ansiedade na população. Já a Coreia do Sul batalha contra o maior índice de suicídios do mundo em sua população, os impulsionadores deste problema são diversos, mas muitos apontam para a cultura cada vez mais competitiva e estressante que envolve o trabalho, a vida e a família. Em ambos os casos, podemos dizer que, fatores e características sociais de longa data tem um grande protagonismo no desenvolvimento de distúrbios mentais. Podemos afirmar, também, que esses fatores foram ainda mais exacerbados e catalisados durante a pandemia da COVID-19, resultando uma sociedade pós pandêmica carente de maiores cuidados com a saúde mental.
No entanto, apesar de estar sofrendo uma crise nacional de saúde mental, o problema é raramente discutido na sociedade sul-coreana. Muitos sul-coreanos descrevem frequentemente as discussões sobre saúde mental como um tabu, uma mentalidade profundamente enraizada na consciência pública, tornando o trabalho de sensibilização e defesa da saúde mental realizado pelos médicos sul-coreanos em grande parte ineficaz. Esta realidade manifesta-se na vida quotidiana: apenas 20% dos sul-coreanos procuram cuidados de saúde mental quando precisam e quase 75% dos idosos sul-coreanos sugerem que a depressão e outros problemas de saúde mental são um sinal de fraqueza. A partir daqui vem o questionamento, o quanto um idol aguenta e sofre em silêncio até que a dor seja tão insuportável que ultrapasse os possíveis julgamentos que irão ser feitos pela sua própria população, para que finalmente possa pedir ajuda?
Apesar da sua crescente popularidade, estas jovens celebridades têm de lidar com associações negativas do rótulo de “ídolo". Criticados pela imprensa e pelo público em geral por serem produzidos em massa pelas empresas de entretenimento e, portanto, carecerem de autenticidade; mas, ao mesmo tempo, ganharam legitimidade social como uma mercadoria exportável que pode elevar o orgulho nacional ao estar na vanguarda da Onda Halyu e devido a esse fenômeno, os idols são "vendidos" como pessoas perfeitas, não passíveis de erros.
Desde as audições, a cansativa e competitiva vida de trainee, até o debut esses jovens recebem uma onda imensa de emoções e sem tempo de digeri-las. Durante a adolescência, o cérebro passa por uma grande reformulação. Isto acontece porque a puberdade faz a transição de pessoas pequenas e dependentes desses adultos, teoricamente produtivos e felizes, até se tornar um deles. Parte do caminho para a idade adulta significa poder se permitir sentir, errar e chorar. Grande parte dos artistas do K-pop passam sua adolescência imersos em treinamento para se tornarem artistas, muitas vezes sem tempo e experiência suficientes para construir uma rede de segurança mental.Uma vez que se tornam estrelas, os ídolos são muitas vezes sujeitos a sofrimento devido à intensa competição com outros grupos de ídolos, comentários de ódio online, bem como à falta de privacidade. Suas ações e seus futuros são à todo momento lhe impostos, a busca pela segurança e situações mais previsíveis, que conheceram quando crianças que passam a tomar conta da sua vida e ser sua bolha de conforto. Aí está a grande questão da ansiedade, é ter medo de viver o futuro e ser incapaz de viver o agora.
É indiscutível a necessidade de um acompanhamento psicológico desses artistas durante suas jornadas, assim como repensar na necessidade de debutar idols tão jovens. Como disse anteriormente, eu vivo com a minha batalha contra ansiedade durante 10 anos e ver que esses idols possuirem muitas vezes apenas meses desses hiatus para poderem tratar de seus problemas me gera um grande aperto no coração. O kpop por muitas vezes me salvou de crises e episódios ansiedade. É a primeira e acredito que a última matéria, que eu escrevo algo de cunho tão pessoal, mas queria compartilhar como esses artistas salvam a mim e muitas pessoas que sofrem de transtornos mentais que se sentem só e desamparadas. O que eu desejo, é que eles possam se sentir abraçados por nós fãs nesses momentos, agora é a nossa vez de salva-los, então busque dar apoio pra esses artistas nesses momentos delicados, mande uma mensagem de amor, vamos aprender a viver e enfrentar o agora juntos.
A partir do momento 6:17, S.Coups líder do Seventeen, pela primeira vez fala sobre como se sentiu até chegar seu limite durante um show na turnê do Seventeen no Japão onde logo depois foi anunciado seu hiatus. Esse vídeo me salvou de uma crise de ansiedade logo no ínicio da pandemia por COVID-19, vendo que como ele, eu também poderia ser capaz de pedir ajuda e com o amor das pessoas que nos amam, poderíamos continuar enfrentar essa luta e reaprender a viver.
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