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Foto do escritorRami

Coreia do Sul e sua obsessão pela pele clara



Ao adentrar em uma nova cultura é muito comum estranharmos certos costumes nativos de certo local. Isso pode ser explicado pelo fato de cada lugar possuir sua própria identidade e desde pequenos somos condicionados a nos acostumar com os hábitos nos quais convivemos, porém, mesmo tendo isso em vista, certos traços continuam sendo difíceis de se explicar e isso ocorre quando falamos da grande glamourização da pele pálida que a Coreia do Sul discrimina tão casualmente no seu dia-a-dia.


A origem da preferência dos coreanos por uma “pele branca” possui milhares de anos. Um mural encontrado em túmulos do Reino de Goguryeo (37-668 d.C.), na Coreia do Norte, que foi listado como Patrimônio Cultural da Humanidade, retrata nobres enfatizando sua pele branca pálida, que fazia parte da composição típica daquela época. A pele branca simbolizava a alta classe, o que motivava as pessoas a buscar um tom mais claro de pele em uma tentativa de se encaixar .No conto popular “Chunhyangjeon”, o interesse amoroso do protagonista Chunhyang, Mongryong, coloca maquiagem para fazer seu rosto parecer mais branco antes de conhecê-la, indicando que a pele branca era preferida desde o século XVII.



Jeong Yak-yong, um estudioso do século 18, e a maioria das outras pessoas daquela época cujos registros mostram que foram avaliados como “bonitos” dizem ter “pele branca” e assim aos poucos foram instaurados os padrões da beleza coreana, praticamente inatingíveis. O clareamento da pele é um dos procedimentos mais comuns na Coreia. A injeção de glutationa, que é uma substância usada para impedir o processo de pigmentação, clareando a pele e que a longo prazo pode gerar níveis mais baixos de zinco e ataques de asma.


Em 2021, o reality show " Singles Inferno", fez sucesso na plataforma online Netflix, por trazer dinâmicas românticas entre solteiros de visuais incríveis. Um dos fatos da série ter tido tanto sucesso é o fato de notarmos a grande diferença cultural que nós ocidentais, principalmente brasileiros, possuímos no quesito "azaração" com os coreanos. Porém, alguns discursos propagados tão normalmente pelos participantes gerou um grande desconforto pra quem assistia e não conhecia esse "costume" da cultura coreana. A cena em questão é quando os homens, após conhecerem as participantes femininas, fazem uma observação que foi traduzida como “Ela é tão branca. Minha primeira impressão dela foi que ela é muito branca, tão puramente branca”. Outro concorrente entrou na conversa, dizendo: “Ela é tão branca. Eu gosto de pessoas com pele branca.” A controvérsia foi o resultado de uma combinação de fatores, o desconhecimento sobre os padrões tradicionais de beleza da Coréia e uma tradução menos que perfeita.



Enquanto isso, os espectadores coreanos passaram a achar estranho que os espectadores estrangeiros ficassem tão profundamente ofendidos com os comentários, especialmente quando havia outra cena em que outro participante elogiava uma pessoa com pele bronzeada. Alguns tocaram em um assunto pouco comentado que é o risco envolvido na exportação de produtos culturais sem sua bagagem, os contextos. Devido às diferenças nas perspectivas e origens do público, o produto acaba atraindo atenção indesejada.


Cultura ou não, usar a cor de pele para elogiar ou criticar um certo alguém acaba aludindo à raça ou remetendo ao colorismo que é um assunto tratado de forma diferente entre as nações . Se interessar por uma nova cultura é apaixonante, mas temos que ter em mente, como essas ideias foram construídas ao longo do tempo na história daquele lugar, até mesmo quando nossa cultura e princípios nos ensina totalmente diferente. Procurar entender mais sobre os fatos não significa concordar, mas sim gerar mais embasamento pra sua opinião. Tirado de um contexto cultural muitos costumem podem parecer estranhos de fato, porém, como ser humanos não fomos capazes de julgar que cor de pele não serve em nada como modo de classificar um ser humano?


Fontes: 1|2

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