Hoje eu vou falar de um drama que me conquistou completamente. Infelizmente não é um drama muito falado. A maioria das pessoas ainda é voltada para os dramas que tem algum tipo de romance, e como esse drama está do lado totalmente oposto ao romance, ele não recebe tanto destaque.
Mas pensa num drama incrível. Ele tem suspense, ação, uma vibe sobrenatural e te deixa o tempo todo pensando quem é o culpado.
Se você gostou de dramas como “Mouse” e “The King of Pigs” você vai gostar desse aqui, pois “Blind” tem uma vibe dos dois dramas misturados.
Blind é um drama sul coreano que foi ao ar no ano de 2022. A história de suspense e mistério acompanha um policial que enquanto investiga uma série de assassinatos acaba se tornando o principal suspeito de cometer os crimes.
O ponta pé inicial começa quando uma garota é assassinada na noite do seu aniversário de 20 anos. Um suspeito rapidamente é identificado, as investigações correm tranquilamente e ele logo está sentado na cadeira dos réus para ser julgado.
Compete então a um júri, formado por 9 completos estranhos decidir se o homem é inocente ou culpado. No fim das contas decidem pela sua condenação. Mas a relação entre essas pessoas não acaba aí.
Pouco após o julgamento, os membros do júri ou seus parentes próximos começam a ser assassinatos com o mesmo modus operandi da primeira vítima. Levantando a questão: quem é o culpado, já que o condenado pelo primeiro assassinato não pode ser considerado o responsável?
Pouco a pouco as peças vão se encaixando e quando a gente entende toda a história e como cada personagem está conectado a cabeça, literalmente, explode. Não que eu esteja defendendo aqui nenhum dos crimes cometidos ou justificando os atos hediondos, mas há momentos em que o sentimento aflitivo dos responsáveis pelos crimes, que um dia foram vítimas, te alcança.
Ao mesmo tempo, a cada episódio Blind intercala duas histórias uma no presente e outra no passado, mais precisamente 20 anos para explicar a origem dos acontecimentos dos dias atuais.
Essa outra história se passa no Hope Welfare, um centro responsável por acolhimento de jovens e crianças órfãs. Mas que na verdade era um verdadeiro inferno. Naquele lugar as crianças sofriam todo tipo de abuso físico, psicológico e sexual.
Nesse centro de acolhimento todas as crianças usavam uniformes e eram identificadas por números. Naquele lugar, além das agressões físicas, as crianças tinham que trabalhar incansavelmente. E quando cometiam algum “erro” eram punidas severamente. Muitas eram espancadas até a morte. É nesse ponto, que a trama foca em cinco crianças que vivam no centro, elas eram muito unidas e tinham planos para fugir juntas.
Personagens principais
Ryu Sungjoon (TaecYeon): Ele é um policial que sempre busca a verdade, mas tem o pavio um pouco curto e sempre se mete em confusões. Inicialmente as situações em que ele próprio acaba se colocando fazem com que todas as setas de culpado apontem para ele. O que faz quem assiste ter alguns questionamentos sobre suas verdadeiras atitudes, mas logo essas dúvidas caem por terra. Ele tem um sério problema de relacionamento com os pais por sempre o preterir em detrimento do irmão mais velho.
Ryu Sunghoon (Ha Seokjin): É o irmão mais velho de Sungjoon, ele é um juiz bem jovem, mas já bastante conhecido por seus julgamentos justos. Ele é meticuloso e perfeccionista. Ele passou no exame da ordem com a nota máxima e se formou como o primeiro da classe no Instituto de Pesquisa e Treinamento Judicial. Os pais o tem como um filho troféu, ao contrário do irmão caçula.
Jo Eunki (Jung Eunji): É uma assistente social bem corajosa. No passado ela foi uma adolescente considerava problemática, e que sempre se metia em encrencas. Por conta disso, ela decidiu se tornar uma assistente social e ajudar outras crianças e jovens.
A história
Contém spoilers.
Ao longo dos 16 episódios de pouco mais de uma hora, passado e presente da história se entrelaçam e pouco a pouco tudo faz sentido. Logo de início somos jogados em uma sequência de cenas confusas em que um grupo de crianças vestindo uniformes está tentando fugir de um grupo de homens, dentre eles, um home chamado de Cachorro Louco. Uma das crianças morre, outra é pega e as outras ficam escondidas.
Anos depois um assassinato acontece. Um culpado é preso e vai a júri. Esse homem é condenado a prisão perpétua, mas logo depois do julgamento uma série de assassinatos começa a acontecer.
Toda a ideia de assassinatos e até a formação do júri do primeiro julgamento, faziam parte de um plano de vingança bem elaborado, articulado por alguns dos homens que outrora foram crianças que vivam no centro assistencial e sofriam os horrores daquele lugar.
Cada pessoa escolhida no júri tinha alguém na família que trabalhava no lar assistencial ou era uma criança daquele lugar que acompanhou toda a violência que aqueles meninos sofriam.
A começar pelo primeiro assassinato. A jovem Baek Jieum, era filha de Baek Moonkang, um dos agentes do centro, mais conhecido como Cachorro Louco. Ele comandava a guarda do centro e era um dos homens mais perversos com as crianças. Outro personagem também envolvido com o centro era Yeom Kinam, ele era um chefe de polícia que à época encobria os crimes do centro, cuja filha foi uma das juradas e foi a primeira do grupo a ser assassinada. Além da própria assistente social Eunki, cuja mãe era enfermeira no centro a época.
Até os pais do policial Sungjoon e do juiz Sunghoon, Na Kukhee (Jo Kyungsook) e Ryu Ilho (Cjoi Hongil), estavam envolvidos. Ela era uma funcionária pública que para zelar pela reputação, escondeu os favores sexuais que seu marido recebia das crianças do centro.
Claro que o plano de vingança articulado milimetricamente pelo Sunghoon, sim, ele mesmo, Jung Insung (Park Jibin, assustador em seu papel) e o chef Charles (Oh Seungyun) - que estavam no júri -, outrora vítimas, agora algozes, não pode ser justificado, mas merece uma atenção. Eles tiraram a vida de várias pessoas, mas é impossível não admitir que o grupo sofreu tanto e de tantas formas que simplesmente lhes foi tirado o direito de se tornarem pessoas normais. Obviamente era impossível eles crescerem e levarem uma vida comum após perderem a própria humanidade ante tanto sofrimento.
As experiências sofridas no centro assistencial, os marcaram de forma tão profunda, que dificilmente seria possível vislumbrar outro destino para o trio e eles acreditavam que só quando a vingança estivesse completa é que finalmente se sentiriam em paz.
A trama é extremamente interessante, apesar de alguns furos perceptíveis ao longo da trama, mas o suspense se mantém em alta todo o tempo e qualquer minuto de distração te faz perder o fio da meada, mas ao mesmo tempo é triste, analisando pelo ângulo de que aquilo que assistimos na ficção acontece de verdade.
Muitas crianças e jovens sofrem todo tipo de violência num grau que muitas vezes não conseguimos nem imaginar. E pior ainda, essa violência é praticada por quem deveria proteger e acolher. E esse é o contraponto interessante entre as pessoas do centro e a assistente social Eunki. Enquanto acompanhamos sua luta para ajudar as crianças e os jovens é impossível não pensar: e se aquelas crianças tivessem alguém assim, que olhasse para elas daquela forma? Se alguém tivesse lutado para salvá-las de tanta crueldade e permitisse que elas vivessem apenas como crianças, tudo aquilo teria acontecido?
Inclusive o personagem Insung. Esse personagem, em especial, a série faz questão de deixar claro desde o início que ele tem traços de psicopatia e um desejo incontrolável de matar. Nesse caso o personagem apenas se aproveita do que passou para tentar justificar seus crimes.
É evidente que todas as profundas feridas que marcaram essas vítimas e as tornaram adultos com grandes sequelas poderiam ter sido evitadas e consequentemente o efeito borboleta que atingiu tantas outras pessoas inocentes não teria acontecido.