Antes de explicar o assunto levantado pelo título, precisamos saber a definição de uma doutrina. Excluindo a origem religiosa da palavra, a doutrinação basicamente representa instruir, divulgar e propagar determinadas ideias ou princípios, com a finalidade de angariar adeptos ou orientar comportamentos. Relacionando esses objetivos com os da indústria do K-pop, não é difícil perceber uma certa similaridade entre os princípios.
Alguns aspectos da indústria em relação aos seus idols, validam essa correlação e podem ser percebidos como formas de "doutrinação" já que à indústria do Kpop é conhecida por sua abordagem rigorosa e altamente controlada no desenvolvimento e promoção de artistas.
Treinamento Intenso: Os traines passam por anos de treinamento intensivo em canto, dança, atuação e até mesmo etiqueta pessoal. Existem relatos de privação de alimentação onde idols costumavam escapar ou esconder comidas para se alimentar, relacionamentos amorosos, privação de estudo adequado, tudo em prol de um desempenho mais do que perfeito no caso de um debut.
Padrões de Aparência e Comportamento: Há uma ênfase significativa na aparência física e comportamento dos artistas, muitas vezes seguindo padrões específicos de beleza e conduta. Procedimentos cirúrgicos em adolescentes, dietas absurdas, branqueamento da pele, além do idol não poder mostrar sua real personalidade. Proibidos de falar palavrões e sequer ter uma vida antes do debut, muitos sendo cancelados por namorarem, fumarem ou por se portarem de qualquer maneira que nao seja a de um jovem exemplo da sociedade.
Controle da Imagem Pública: As agências de entretenimento têm um papel fundamental na criação e manutenção da imagem pública dos artistas, moldando como eles são percebidos pelo público.
Restrições Contratuais: Contratos muitas vezes detalhados e longos podem impor restrições em atividades fora da carreira musical, como namoro, para manter uma imagem específica.
Participação Ativa dos Fãs: A interação com os fãs é frequentemente encorajada e monitorada, criando uma comunidade dedicada em torno dos grupos. Porém, nem sempre essa relação é saudável, por exigirem o perfeccionismo, o fato de um idol não agir como um ser que viver pelas fãs gera grande problema como idols que são descobertos namorando e sofrem protestos para sua retirada do grupo. Em uma analogia, não serem reais seguidores da doutrina de produção de jovens talentosos e perfeitos.
Com condições como esta, por que a indústria do K-pop ainda é tão reverenciada? Por um lado, o seu público-alvo, os quais são principalmente adolescentes com idades entre os 12 e os 18 anos, ou não estão conscientes da natureza implacável da indústria, ou consideram-na normal. Em segundo lugar, os indivíduos que entram numa empresa de entretenimento como traines são geralmente (e cada vez mais) jovens para compreenderem plenamente as ramificações legais e éticas do seu contrato. A maioria dos traines se tornam ídolos de K-pop para fazer a transição para segmentos mais sérios da indústria do entretenimento, como atuação e gêneros musicais não pop, mas ficam presos em contratos longos que não podem contestar devido aos resultados predatórios resultantes em uma batalha legal. Por exemplo, uma empresa de entretenimento grande o suficiente tem autoridade para colocar seus ex-ídolos na lista negra de programas musicais para que eles não obtenham qualquer exposição em álbuns futuros.
Nos últimos anos, o governo sul-coreano fez um “contrato modelo” para forçar as empresas a abandonarem os contratos de "escravatura" na indústria K-pop. No entanto, isto é mais uma diretriz do que uma lei e teve pouco efeito. É escandaloso que o tratamento desumano dos ídolos seja do conhecimento geral, mas quase nada esteja a ser feito para retificá-lo. Com a indústria K-pop a ter quase 80 anos, é degradante que, apesar de explorarem abertamente os indivíduos desde a sua criação, as empresas não enfrentem consequências devido à ausência de um quadro jurídico adequado. É necessário introduzir métodos de produção ética para corrigir as más práticas da indústria. Já é tempo de a lei ter em conta o comportamento excessivamente capitalista destas empresas e oferecer alguma proteção às vítimas desta indústria, para evitar mais abusos no futuro.
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De verdade, sabemos que há muita coisa errada, mas ainda tem muita gente que passa pano para as empresas. Além disso é interessante ver esse tipo de situação pois mostra bem o tipo de realidade a Coreia vive como país, esse tipo de tratamento não acontece apenas com os idols de kpop, muitas empresas lá praticamente escravizam seus funcionários. Há muitas pessoas que precisam acordar para realidade e parar de romantizar o kpop e a Coreia.